Economia Segundo a Bíblia (R. C. Sproul Jr.)

Economia Segundo a Bíblia (R. C. Sproul Jr).

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Extraído e adaptado de Economia Segundo a Bíblia, autor R. C. Sproul Jr, por Adachan Devan.  
   
   Você gosta de falar de economia ou de política? Qual a relevância destes temas para nós, cristãos? Será que devemos investir tempo e esforços para compreender tais assuntos? Que impacto eles têm sobre a vida dos crentes no Senhor?
   
   Bem, ao considerarmos que fomos ensinados pelo próprio Jesus a rogar pelo “pão nosso de cada dia”, e que esse “pão” chega até nós por meio do trabalho que o Senhor mesmo nos concede, e que as questões que envolvem o nosso trabalho estão diretamente ligadas às questões sociais, políticas e econômicas, concluímos que sim, precisamos ampliar os nossos conhecimentos nas áreas que dizem respeito a economia, bem como entender quais são os instrumentos usados por Deus para prover o “pão diário” e procurar entender como o cenário político-econômico pode interferir no exercício da mordomia cristã.
   
   As questões econômicas e administrativas tiveram início em Deus, na criação, e desprezá-las seria o mesmo que nos abster do mandato cultural que é o de administrar a criação para a glória do Senhor.
   
   Vejamos alguns princípios básicos da economia e o estabelecimento da mordomia cristã sobre a criação:

1) O primeiro e mais básico princípio da economia é este: Deus é o dono de tudo! Deus é o dono de tudo, e a função do ser humano como mordomo é administrar estas coisas para a promoção da glória do Senhor...
   
   O que é economia? Economia é o homem tomando decisões sobre como usar da melhor maneira possível os seus recursos limitados a fim de ser um bom mordomo diante de Deus. Lembrando que mordomia é o homem governando e usando a ordem criada para os propósitos e a glória de Deus.

   Por que estudar economia? Um dos motivos é a nossa própria obediência... Deus deu o Mandato Cultural no jardim do Éden, e todos nós somos filhos de Adão e Eva, de modo que este mandato permanece em nós. Portanto, somos chamados a nos submetermos a este mandato, a obedecê-lo, e para fazer isto precisamos antes de mais nada entendê-lo, e consequentemente entender alguns princípios básicos da economia.

Portanto, não acreditamos nos ensinos da economia só porque muitas pessoas na Civilização Ocidental acreditaram neles, embora elas tenham acreditado. Nós não cremos nos ensinos da economia só porque a experiência atesta a verdade da economia, embora ela ateste. Nós sequer acreditamos nos ensinos da economia só porque todos os seres humanos têm mentes racionais que nos permitem entender que seres humanos agem com um propósito, embora todos nós tenhamos mentes capazes de pensamento racional. Nós acreditamos nas verdades da economia porque Deus nos criou à sua imagem com a habilidade de conhecer e perceber a verdade, e uma dessas verdades nos comunicou na criação e na Palavra de Deus que, assim como Deus, nós agimos com propósito.
—Shawn Ritenour, Foundations of Economics

   Que tenhamos condições de viver de forma condigna à nossa vocação, e que os nossos esforços econômicos tenham um objetivo muito mais elevado do que simplesmente satisfazer as nossas necessidades terrenas; antes, que sejam usados por nós como valiosas ferramentas para cumprimento do chamado cristão, o “ide” de Marcos 16.15.

O Problema Econômico do Pecado

   Talvez possamos ser levados pela falsa ideia de que o evento da Queda tenha afetado apenas alguns aspectos de nossas vidas.

   Podemos pensar que o pecado não teve suas ramificações e que não influenciou algumas áreas mais "superficiais", como, por exemplo, as questões administrativas, políticas ou econômicas.

   Entretanto, como sabemos, a desobediência a ordem divina trouxe grandes implicações sobre os mandatos de Deus ao homem.

   A partir de agora, então, procuraremos analisar melhor os efeitos que a Queda, e a consequente entrada do pecado no mundo, trouxe sobre as questões econômicas e poderemos enxergar o pecado como um agente ativo, também, sobre esta esfera de relações e atividades humanas.

Deus promete prosperidade e bênção a sociedades que obedecem a sua Lei. Mas ele adverte quanto à miséria e o julgamento sobre aquelas que a rejeitam. A prosperidade e a bênção de um lado, e a miséria e julgamento do outro, não são causadas somente pela resposta de Deus às nossas ações. São também resultados naturais de causa e efeito de comportamento consistente ou inconsistente com as leis morais e físicas que Deus entrelaçou no tecido da criação. A cosmovisão bíblica, reconhecendo essas leis e ensinando as pessoas a operar consistentemente com elas, está na base da prosperidade do ocidente.
—E. Calvin Beisner, Prosperity and Poverty

   Deus apresenta sua graça ao homem pecador, fazendo com que o impio possa se arrepender e encontrar paz e restauração no Senhor.

   O mal hábito de dicotomizar nossa vida em "vida espiritual" e "vida prática" faz com que sejamos conduzidos ao erro de acreditar que esta graça divina atinge somente o âmbito espiritual do homem.

   Entretanto, o que a Bíblia nos revela é que a graça abrange todas as áreas das atividades humanas, inclusive na econômica. E, a partir desta realidade, devemos buscar embasar nossas práticas econômicas em alguns princípios fundamentais para glorifiquemos ao Senhor também nas questões relacionadas à economia.

   Lembremos que, embora o pecado tenha desfigurado toda a criação e o homem, em Cristo, há refúgio e restauração.

O Trabalho - Produção, Propriedade e Ferramenta

   As questões econômicas estão entrelaçadas com a vida cristã, pois elas se relacionam a nossa mordomia.

1) Deus fez o homem para trabalhar.

2) O trabalho é uma atividade produtiva.

3) Ao homem pertence o que ele produz.

4) Precisamos ser capazes de trocar bens e serviços uns com os outros.

5) Temos que economizar a fim de acumular capital.

6) Se homens trabalham juntos e cooperam, eles podem combinar sua terra, trabalho e capital para multiplicar grandemente suas habilidades de produzir coisas ainda maiores e complexas.

7) Capital na forma de ferramentas nos capacita a produzir coisas de maior complexidade que talvez, de outra maneira, não fôssemos capazes de criar.

8) Quando bens são produzidos em massa, a quantidade aumentada abaixa os preços, o que, por sua vez, faz com que ainda mais pessoas possam comprá-los.

     
Todos estes princípios se unem para nos lembrar como conseguimos riquezas através do trabalho. Eis como funciona: propriedade privada, mais livre mercado, mais economizar, mais divisão do trabalho, mais ferramentas, mais produção em massa, mais preços mais baixos, isto vai criando por si só uma espiral resultando em riqueza e em propriedade cada vez maiores para todos em uma sociedade inteira... E isto lembrando que a definição de riqueza é a habilidade de adquirir as coisas que queremos ou que precisamos.

Nas nações civilizadas e prósperas, [...] embora muitos nem sequer trabalhem, muitos dos quais consomem dez ou cem vezes mais produto do que aqueles que trabalham; ainda assim o produto de todo o trabalho da sociedade é tão grande que frequentemente é capaz de suprir a todos abundantemente, e um trabalhador da classe mais baixa e pobre, se for frugal e industrioso, poderá usufruir de maior fatia de bens necessários à vida e ao conforto do que seria possível a qualquer selvagem”.
—Adam Smith, A Riqueza das Nações

   Podemos utilizar de ferramentas adequadas a fim de melhorar nosso trabalho e gerar riquezas. Ao lançar mão de tais instrumentos, temos a possibilidade de ter um maior rendimento com relação ao tempo, ao aumento de nossa produção e à geração de bens.

   O objetivo da geração de riqueza não deve ser ela mesma! A riqueza, para o cristão, não tem um fim em si própria, antes, ela dever ser encarada como recursos os quais podemos e devemos utilizar como instrumentos de Deus para apoio dos nossos irmãos, do corpo de Cristo de forma geral.

Quando os sindicatos conseguem salários maiores para seus membros ao restringir as oportunidades de trabalho em determinada ocupação, o aumento desses salários se dá à custa dos trabalhadores que têm as suas oportunidades reduzidas. Quando o governo paga seus empregados salários mais altos, o aumento desses salários se dá à custa do contribuinte. Mas quando trabalhadores recebem aumento de salário e melhores condições de trabalho através do livre mercado, quando recebem o aumento através de firmas que competem uma com a outra por melhores funcionários, através de trabalhadores competindo uns com os outros pelos melhores empregos, esse aumento de salário não se dá à custa de ninguém. Eles só podem vir da mais alta produtividade, do maior investimento capital, de habilidades mais amplas. A torta inteira é maior — há mais para o trabalhador, mas também há mais para o empregador, para o investidor, para o consumidor e até para o coletor de impostos. É assim que o sistema de livre mercado distribui os frutos do progresso econômico entre todas as pessoas. Esse é o segredo das enormes melhorias nas condições do trabalhador ao longo dos últimos dois séculos.
—Milton Friedman

   Ao procurarmos fazer uma análise das relações de livre mercado, podemos perceber que, embora não seja perfeito e que nele não esteja a solução para o problema da humanidade, o livre mercado é o modelo que mais se aproxima do justo e funcional para a elevação da economia e diminuição da escassez.

   A história, tanto a antiga quanto a contemporânea, pode comprovar isto. Todos os países que adotaram o livre mercado tornaram-se mais prósperos do que aqueles que não aderiram a este sistema econômico.

   Precisamos valorizar sistemas econômicos que possam oferecer melhores condições para a população. A prosperidade alcançada com trabalho também é reflexo da graça de Deus sobre uma nação.

O Papel do Empreendedor - Empreender?

   Nossa sociedade foi “treinada” a olhar com suspeitas aqueles que estão na posição de patrões. Mas, quando Deus nos faz compreender todas as implicações das relações econômicas, passamos a observar e a valorizar a tarefa daqueles que foram chamados para empreender.

   Muitos homens e mulheres são usados por Deus como instrumentos na geração de empregos e na criação de produtos ou serviços que são de extrema importância para o desenvolvimento econômico.

   Pensemos um pouco na importância e na função do empreendedor. À luz da Palavra de Deus, queremos tratar sobre a função do capital na produção, a importância do cálculo, a fonte dos empregos, a função da tecnologia, o serviço aos consumidores, a competição sadia e até mesmo sobre o lucro.

   A lei é importante para o estabelecimento de um contexto aonde possa haver liberdade, e consequentemente, prosperidade; e isto considerando o trabalho e a divisão do trabalho e do comércio para que todos os desejos e necessidades sejam atendidos, mas quem vai tomar a decisão de trazer um produto ou um serviço para o mercado? O empreendedor.

   É o empreendedor é a pessoa que reúne tudo o que precisa para criar o produto e trazer para o mercado. Assim, o empreendedor é qualquer pessoa que tem uma ideia, que tem um objetivo de fornecer um produto ou um serviço e que esteja disposto a começar uma empresa, e assim, começar o negócio de fazer essa ideia se tornar realidade; sendo que para tanto é necessário:

1) Capital

2) Informações Precisas

3) Correta aplicação da tecnologia

Eu nunca aperfeiçoei uma invenção na qual eu não tenha pensado em termos do serviço que ela pudesse prover a outros... Eu descubro o que o mundo precisa, e então começo a inventar.
—Thomas Edison

   Quando olhamos ao nosso derredor e observamos os cereais que estão à nossa mesa, mas que não plantamos; as tecnologias que à nossa disposição, as quais não inventamos; os edifícios que moramos ou trabalhamos, os quais não edificamos; enfim, quando percebemos tantos bens de consumo dos quais nos beneficiamos e que foram produzidos sem que tenhamos investido tempo ou recursos financeiros, precisamos reconhecer o papel e a importância dos homens que foram levantados por Deus para empreender.

   Passamos a valorizar o papel do empresário, que investe tempo e recursos para fazer prosperar o seu negócio e manter empregos, assumindo grandes riscos e responsabilidades.

   Como cristãos, precisamos parar de olhar para a relação social como “patrão VERSUS empregado” e passarmos a pensar nela como uma relação “patrão MAIS empregado”. Lembrando que, quando cada um assume sua tarefa, isto pode redundar em melhores condições socioeconômicas para todos.

Deus e a Política

   Hummm, lá vem essa tal de política!!! Na tentativa de escapar desses assuntos, você já deve ter ouvido alguém dizer que "Política e religião não se discutem!"

   Pois bem, mas será que é assim que devemos encarar a política e a religião, como assuntos desconectados sobre os quais um crente não deve refletir.

   O entendimento que o indivíduo ou uma sociedade tem acerca de Deus, ou seja, a sua teologia, vai moldar a sua filosofia, a sua antropologia e a sua visão política.

   É com isto em mente que, veremos um embate entre teologia cristã e a teologia ateísta e entenderemos que as ideias teológicas são refletidas nos sistemas políticos e econômicos de nação.

   De forma alguma a economia é algo separado das nossas vidas, tanto que em um estudo sobre Deus e a política é necessário a consideração destes três fatores juntos: ideias filosóficas, ideias econômicas e ideias teológicas, bem como cada uma causa e gera impacto nas outras...

   Tendo um entendimento cristão do propósito do homem, nós começamos a lembrar que somos mordomos, que somos feitos para o propósito da mordomia, que é gerenciar a criação de Deus sob sua autoridade e para sua glória. Como mordomos, na perspectiva cristã, somos chamados a trabalhar: o trabalho é uma benção e um dom, e é parte daquilo que somos; mas da perspectiva ateísta, o trabalho é algo a ser evitado, algo do qual o homem tem de fugir...

   Quando dá ao homem o chamado da mordomia, o chamado do trabalho, Deus o faz em Gênesis, no contexto da família. Então o que somos e qual o nosso propósito envolve sermos fecundos e multiplicar no contexto da família pelo qual servimos a Deus. Mas se somos produtos do acaso, primeiro não podemos discernir qual é o nosso objetivo, e segundo, não temos ninguém para adorar, não temos ninguém para agradecer, de modo que na perspectiva ateísta, a adoração recai à tolice de adorar a criatura em vez de adorar o Criador, como ensina o apóstolo Paulo em Rm 1; e isto, por que o objetivo do sistema ateísta é que o homem, enfim, adore o estado, o que se revela na fonte da lei.

   No sistema cristão, por outro lado, as leis políticas, devem refletir as próprias leis que Deus nos revelou e a lei humana é a lei divina da mesma maneira que seres humanos refletem o ser de Deus. Então queremos que as leis sejam submissas a Deus em sua transcendência, e são justamente as que somos chamadas a obedecer. Em um sistema ateísta, visto que o homem é deus, nossas leis são fundamentadas no lugar perigoso que é a vontade de alguns homens, tipicamente os mais inteligentes e poderosos determinam quais serão as leis que eles irão impor no resto da cultura no mundo ateísta.

   Liberdade é uma realidade dada por Deus que a política deve respeitar para que possamos avançar nossos negócios no serviço a Deus...

A visão de Deus, o conhecimento de Deus, a experiência de Deus de uma sociedade ou nação, é aquilo que, sozinho, dá caráter à mesma e significado ao seu destino. Sua cultura, a voz de seu caráter, é meramente essa visão, conhecimento e experiência de Deus fixados por seus mais intensos espíritos em termo inteligíveis para a massa de homens. Nunca houve uma sociedade ou nação sem Deus. Mas a história é bagunçada pelos destroços das nações que se tornaram indiferentes a Deus, e morreram.
—Whittaker Chambers, Witness

   Sendo a teologia, ou seja, a compreensão de quem é Deus, a base fundamental de uma sociedade, não podemos menosprezá-la e acreditar que as questões teológicas são assuntos reservados aos clérigos. Absolutamente!

   A teologia é uma ciência que influencia todas as esferas de uma nação. A compreensão da Pessoa de Deus interfere na ação dos líderes políticos sobre um povo.

   Temos visto, ao longo da história, que teologias ateístas têm se desdobrado em práticas tiranas, em usurpação do poder do Estado e na opressão da população. E, obviamente, esta não é a vontade de Deus para uma nação.

   Precisamos analisar de forma crítica os sistemas políticos disponíveis e procurarmos aquele que mais se adequa aos parâmetros bíblicos.

A Filosofia e os Sistemas Econômicos - Uma Análise Crítica

   Será possível que, neste mundo caído, haja uma prática filosófica completamente alinhada com os princípios bíblicos? Será que encontraremos neste presente século um sistema econômico perfeito? Certamente que não!

   Entretanto, como cristãos, temos o dever de nos empenhar em prol da sociedade e influenciar a nossa geração para que ela se aproxime cada vez mais dos padrões divinos.

   Mas, como podemos fazer isto? Além de vivermos uma vida digna da nossa vocação, é claro, precisamos nos esforçar para compreender as chamadas ideologias que moldam os sistemas políticos que estão à nossa frente, pois elas demonstram os objetivos de cada um deles.

Deveria ser óbvio que o crescimento exacerbado do governo civil, se assumirmos o ponto de vista humanista, é, em última análise, uma sociedade controlada e regimentada: o socialismo, o fascismo, o comunismo e o moderno estado de “bem-estar” social são diferentes não em essência, mas apenas em grau. Em nações por todo o mundo, o homem tem produzido sistemas econômicos que são controlados politicamente no lugar de economias que são livres. Esse processo tem acontecido até mesmo nos Estados Unidos da América.
—Tom Rose, Economics: Principles and Policy

   O cristão precisa glorificar a Deus em todas as esferas de sua vida. Ele faz isto quando cumpre os mandatos de Deus, agindo com um bom mordomo.

Intervenção Governamental - Até que Ponto?

   É comum e salutar que cobremos dos nossos governantes condições apropriadas para a vida em sociedade, seja na área da saúde, na área da segurança pública ou assegurando os direitos e deveres de cada cidadão.

   Entretanto, devemos estar sempre atentos, pois há uma tênue linha vermelha, um limite que não pode e não dever ser ultrapassado.

   Vamos refletir um pouco sobre as ações do Estado sobre a economia e sobre a educação, analisando quais são as responsabilidades estatais e, à luz de fatos históricos, os perigos da intervenção do governo na educação dos nossos filhos, por exemplo...

   Como a intervenção afeta diretamente a habilidade de um homem de ser um fiel mordomo da criação de Deus sob sua autoridade. O governo tem um papel a cumprir na esfera econômica. Deus dá ao estado o poder da espada a fim de proteger a vida e a propriedade; mas o problema é que de posse do poder da espada o governo enfrenta a tentação de utilizar a mesma espada para intervir na economia, e o que acontece quando o governo começa a usar a espada para buscar seus próprios interesses econômicos ou sociais é que o estado consome ou assume o controle de porções destas esferas que Deus estabeleceu para outros criarem, a esferas da família, da esfera da Igreja, por exemplo. E quando o governo se envolve em lugares aonde não se deve envolver, isto sempre acaba em fracasso.

   E existe uma simples razão econômica para isto: é porque o governo não pode produzir nada! Tudo o que o governo pode fazer como agente de força é restringir, consumir ou redirecionar, mas não pode produzir nada! E é justamente por isto que o intervencionismo, como sistema, interfere na nossa capacidade de fazer cálculos econômicos...

   Desta forma o governo intervêm na educação, primeiro porque é a educação que vai ajudar a formar a cultura, vai ajudar a moldar a maneira como pensamos e como entendemos as questões econômicas, como o real papel do governo, como o que significa liberdade, e segundo porque a educação é uma daquelas fatias da nossa realidade que primeiro se apoderam de homens e de mulheres que queriam usá-la para remodelar nossa estrutura social, para remodelar a própria cultura. E por causa disto a educação não tem sido meramente intervencionista, mas sobretudo, tem sido essencialmente socialista, por que é fundada pela redistribuição das riquezas, controlada por uma burocracia centralizada e ateísta.

   Visto que o governo opera como um monopólio pelo qual todos tem que pagar quer usem ou não, isto elimina a competição deixando do lado de fora estruturas de preço e não permitindo cálculos reais no campo da educação. Também deve ser lembrado que o dinheiro é tomado de alguns contribuintes e dado a outros contribuintes, uma distribuição de riquezas arbitrária e pecaminosa, porque se constitui em um ataque frontal aos direitos de propriedade dados por Deus. 

Quais são as sagradas mentiras? A primeira e maior mentira é a noção de que a instituição do governo é capaz de abordar adequadamente e com sucesso todos os problemas humanos. A verdade é que tal coletivismo impede o progresso humano, pois ele abre a porta para muitos abusos flagrantes de pessoas e seus direitos de propriedade. Ele fornece o maior meio pelo qual algumas pessoas, invariavelmente, tentarão crescer neste mundo usando-se dos esforços produtivos de outros [...]. A crença generalizada de que o governo pode fornecer educação superior, fundos de aposentadoria adequados e toda uma hoste de outros bens e serviços, testifica da mentira. Ademais, a crença comum que as pessoas têm de que o governo pode, com sucesso, planejar e gerenciar a economia, é evidência adicional do sucesso da mentira.
—Paul Cleveland, Unmasking the Sacred Lies

   Em nosso contexto, o Estado, através dos Planos Nacionais de Educação (PNEs) tem assumido cada vez mais, através da escola, a responsabilidade de formar cidadãos.

   Tendo em mãos esta valiosa ferramenta de controle social, o que temos visto em diversos ambientes escolares, e até mesmo no meio acadêmico, é a deturpação do papel do professor que, deixando conduzir o aluno ao conhecimento da ciências exatas, humanas ou biológicas, tem se preocupado em moldar a mente do aluno de acordo com suas convicções políticas, econômicas e até mesmo teológicas.

   As Escrituras afirmam que a formação da criança é uma tarefa que cabe ao pais (Dt 6). Isto implica em conversas diárias sobre como agir em sociedade, sobre a sexualidade, a economia, as filosofias contemporâneas, a cultura e, até mesmo, sobre política.

   Não podemos delegar a tarefa que Deus nos deu àqueles que não tem a mesma cosmovisão que temos. Envie-os às escolas, mas eduque-os em casa, preparando-os para enfrentar as grandes questões da vida à luz da Palavra de Deus. 

Tempos de Crise

   É notório que a situação econômica pela qual um país passa afeta diretamente o dia a dia da população.

   Quando a economia está em alta, a nação se movimenta, negociações são feitas, empregos são gerados, o mercado imobiliário se desenvolve...

   Mas, infelizmente, a verdade é que quando o país atravessa um tempo de recessão, isto igualmente se reflete na sociedade. 

   Em tempos de crise, muitas pessoas perdem seus empregos, não conseguem sanar seus débitos, diminuem seu poder de compra...

   Com o cristão isto não é diferente. Nós também somos afetados pelos efeitos econômicos e isto pode interferir diretamente na nossa mordomia.

   Porque as coisas estão ficando cada vez mais e mais caras? O que é que está acontecendo com o valor do nosso dinheiro? Quais são as qualidades do dinheiro? Existem 5 princípios chave, 5 qualidades que um bom meio monetário precisa ter:

Em primeiro lugar, o dinheiro precisa ser divisível.

Em segundo lugar, o dinheiro precisa ser portátil.

Em terceiro lugar, o dinheiro precisa ser durável.

Em quarto lugar, o dinheiro precisa ser reconhecível.

Em quinto lugar, o dinheiro precisa ser escasso.

   Historicamente, é preciso entender que nem sempre o dinheiro foi de responsabilidade do estado... Um mercado mais livre é capaz de prover seu próprio meio monetário.

Nosso entendimento e uso do dinheiro, como indivíduos e como sociedades inteiras, tem um profundo efeito na qualidade da nossa mordomia. Um sistema monetário defeituoso pode fazer com que as pessoas julguem mal o valor de seu dinheiro e, assim, sua capacidade de pagar por bens e serviços [...]. Resumindo, um sistema monetário defeituoso pode fazer com que desperdicemos recursos — recursos sobre os quais Deus nos tornou administradores, e para o uso dos quais ele nos terá como responsáveis.
— E. Calvin Beisner, Prosperity and Poverty

   Questões econômicas não são tão atraentes para nós, não é mesmo? Até que a crise venha e "bata em nossa porta"! As dificuldades geradas pela falta de emprego, pelas altas taxas de juros, pela inflação assolam uma nação, gerando pobreza e oprimindo o povo.

   E a igreja? Missionários no campo, atividades sociais, atendimento aos órfãos e viúvas, estas são apenas algumas áreas de atuação eclesiástica que podem ser afetadas por uma recessão.

   Por isso, é importante que estejamos, primeiramente, clamando em favor da economia de nosso país. Mas não podemos parar por ai, precisamos urgentemente compreender que nossas escolhas políticas afetam diretamente a nossa situação sócioeconômica e que temos a responsabilidade, como mordomos de Cristo, de atuarmos conscientemente nesta área da sociedade, em prol do Evangelho do nosso Senhor.

Para que Deus Estabeleceu o Estado?

   Qual será a natureza do assistencialismo e do corporativismo e o que acontece quando essas políticas são seguidas?

   Como bem sabemos, a natureza pecaminosa distorceu todo o nosso entendimento sobre as nossas relações sociais. Um dos reflexos desta verdade é que deixamos de compreender o nosso papel como servos e exigimos sermos servidos. 

   Acreditamos que o trabalho é algo mal e não conseguimos enxergá-lo como uma graça de Deus ao homem.

   Esta corrupção em nosso entendimento leva-nos a gostar da ideia de que o Estado nos assista em todas as nossas necessidades: saúde, alimentação, moradia, etc. Mas será que foi para isto que Deus institui os governos?

   O que estamos vendo no século XX é uma perspectiva crescente que sugere que a riqueza da nação está lá para ser redistribuída pelo estado, para os propósitos do Estado no assistencialismo e no corporativismo... Mas o que isto faz com a nação? E, como pagamos por isto? E o que isto significa para o nosso chamado de mordomos sobre a criação de Deus?

    A Bíblia interliga trabalho e renda, enxergando o trabalho vocacional, o chamado de um homem como central para o seu propósito como pessoa... A Bíblia também conecta a caridade com a mensagem do Evangelho.

   A mentalidade econômica assistencialista está embasada na filosofia socialista, e assim, quais são os resultados de um estado assistencialista? Primeiro, é preciso lembrar que o governo não pode produzir nada, só pode redistribuir, redirecionar, controlar ou reprimir, ou seja, só pode tomar o dinheiro de outras pessoas que estão produzindo... E conforme o governo tira mais e mais dinheiro das pessoas que produzem, ele acaba controlando mais e mais a economia em geral. Ou seja, o governo acaba tirando o dinheiro da esfera produtiva, com o dinheiro trabalhando para criar mais riquezas, e acaba sendo dinheiro consumido! E assim, os sistemas do governo supostamente projetados para aliviar a pobreza, acabam, no fim das contas, criando ainda mais pobreza!

   A assistência social prestada pelo governo não é só ruim para a economia de maneira abstrata, embora seja. Não é só ruim no fato de estar tirando dinheiro de pessoas produtivas e dando a outras, embora isto seja ruim. O real horror do sistema assistencialista de governo, é que ele é ruim para aqueles que o recebem e que são dependentes dele.

   Quando passamos por dificuldade por causa do nosso pecado, sem a mensagem do Evangelho, sem o chamado ao arrependimento, nós nos tornamos um condomínio de filhos pródigos! Este é um princípio básico da economia: o que você subsidia, você faz crescer! 

O problema com o socialismo é que, eventualmente, o dinheiro que não lhe pertence acaba.
—Margaret Thatcher
Para que Deus instituiu o Estado?

   O poder público foi instituído para promover o direito de liberdade, assegurar o direito de propriedade e promover a segurança pública.

   De acordo com os ensinamentos bíblicos, Deus não condena o assistencialismo, muito pelo contrário, ele deseja que os cristãos, como indivíduos e como corpo, pratiquem a caridade.

   Mas nós nos recuamos e entregamos esta tarefa ao Estado. Quando o poder público assume esta responsabilidade, há um aumento inevitável nas taxas de imposto e no controle sobre a população, que fica cada vez mais dependente deste assistencialismo estatal, ao invés de compreender instrumentalidade da igreja de Cristo. 

   Precisamos retomar nosso papel assistencial e, com isto, sermos instrumentos de Deus para abençoar a nossa sociedade. Enquanto igreja militante (aquela que está ativa na sociedade), precisamos nos opor às atitudes pecaminosas, inclusive aquelas praticadas pelo do Estado. Precisamos agir de forma orientativa levando o povo de Deus a compreender o seu papel na sociedade. 

   O cristão não pode se dar ao luxo de se calar diante dos assuntos econômicos e políticos da uma nação.

   Não podemos nos ausentar do política! Embora este seja um assunto bastante complexo, controverso e polêmico, não podemos acreditar que política não tem relevância para o crente, para a igreja e para o Reino de Deus.

   Devemos estar preparados para uma conversa franca e sincera sobre o campo da economia. Temos que saber escolher nossos candidatos comparando seus ideiais políticos aos princípios bíblicos. Devemos compreender e ensinar nossos filhos, familiares e amigos sobre os diversos sistemas políticos existentes e como eles afetam a vida de cada um de nós.

   Em nosso país, por muitos anos, abandonamos nossas responsabilidades políticas e sociais. E isto trouxe-nos graves consequências. Somos seres sociais, Deus nos fez assim, nos fez para cuidar e administrar a sua criação de forma que seu nome seja exaltado. Cristãos conscientes politicamente terão melhores condições para serem excelentes mordomos do Senhor.


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